quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Poemas, livros, cervejas e amigos

No último sábado, dia 10, rolou um evento da Aquela Editora na Livraria Quarup, em Juiz de Fora, para a divulgação de seus últimos lançamentos: "Distância", do menino Otávio Campos e "Trovadores Elétricos", de Anderson Pires, livros de poesia que ainda voltarei a falar por aqui. O encontro também contou com a presença de outros poetas da pesada, como André Capilé, André Monteiro, Anelise Freitas, Giovani Verazzani e esta pessoa que vos fala (cafona isso, né?). O que teve por lá você pode conferir aqui e ainda curtir uma trilha sonora de responsa. 

E no próximo fim de semana tem mais, olha só:


Deixo com vocês o texto que escrevi e li na última ocasião. Comentários, claro, são bem vindos.

Caderno de receitas

É preciso escrever como se não bastasse pensar.
É preciso fazer você, ouvinte, gozar e dizer: que foda, ele é poeta,
Ainda que passemos o mês inteiro sem trepar.
De quebra, é preciso que essa arquitetura aqui te faça refletir com a mão no queixo
enquanto aquela outra voz, que conversa com a gente, revela que seremos obrigados
a aceitar o fato de que somos assim, de que nos tornamos e nos tornaremos alguma coisa pelo resto da vida, que precisaremos conviver com a pessoa que
deseja jogar-se da primeira ponte que ver pela frente.
Mas calma, há horas em que esse desejo é apenas para nos certificarmos da possibilidade de flutuar.
E essa máquina que é pra emocionar, gente, é falha.
Esse eu menor, maior ou igual ao mundo é apenas teoria.
Mudam as coisas, a nervura dos ossos, a tessitura da pele,
a biologia do coração quando, no fim daquela tarde
que ninguém dava nada por ela, o sol violenta a cortina de renda
e você, procurando coisas banais pelos armários daquela casa,
encontra um caderno de capa dura, com a natureza morta datada e assinada,
seguida de preâmbulos manuscritos e receitas que, pela simplicidade e elegância com que foram bordados nas folhas, tornam aquele instante e aquele único registro de quem só
completou as séries escolares iniciais, prenhes de poesias e filosofias
tão profundas quanto a nossa pele.
Existe alguma estética do solavanco?
Qualquer saúde é um pouquinho de amor?
Existe cura para os problemas das cidades sem a loucura?
Conhecer a si mesmo exige que nos desconheçamos,
A vergonha de escrever, o medo de assumir a fraude que a cada dia constatamos que somos,
o fracasso ininterrupto de horas jogadas ao vento, porque cismamos parecer inteligentes e sensatos frente aos que não fazem nada além do que a selvageria acha de bom tom: atacar!
E esse ataque é esporte praticado. É também um pouquinho de saúde sem amor.
E esse encontrar-se em estado de permanência
e evitar que devires opressores falem mais alto e dite seus totalitarismos,
procura impedir que nos tornemos aborrecidos ou ressentidos,
de que não estamos fazendo análise de grupo, mas
é essa obra não publicada que achamos em lugar inóspito
é que treme em nossas mãos, que lemos e esvaziamos nossos corpos, perplexos,
e ficamos ali sentados, fumando aquele cigarro que nos redime,
silenciando suas palavras com outras palavras da ordem do silêncio,
plausivelmente convencidos de que tudo, embora em movimento,
continua intacto e registrado nos tapas que tomamos desses esbarros. 


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